sábado, 30 de junho de 2007

O Método da Arquivística

A arquivística é, como vimos, uma ciência de informação social que tem como objecto de estudo os arquivos, quer na sua estruturação interna e dinâmica própria, quer na interacção com os outros sistemas correlativos que coexistem no contexto envolvente.

A adequação da arquivística ao seu objecto processa-se através de um método próprio que é concebido para conhecer, interpretar, explicar e gerir informação.

Este método tem em conta duas vertentes:

VERTENTE QUANTITATIVA
Porque o objecto da arquivística é susceptível de observação, de experimentação e de medida.

VERTENTE QUALITATIVA
Porque no trabalho de reconstituição do seu objecto se verificar a implicação modeladora do sujeito (isto é, do arquivista) fazendo, por isso, emergir uma certa dose de subjectividade ou, por outras palavras, de objectividade relativa.
O método da arquivística pode, pois, definir-se de acordo com quatro vertentes de análise:
  1. A da problematização científica (vertente epistemológica)
  2. A dos princípios (vertente teórica)
  3. A da abordagem operacional (vertente técnica)
  4. A da forma (vertente morfológica)

1. VERTENTE EPISTEMOLÓGICA

Na vertente epistemológica opera-se a permanente construção do objecto científico e a delimitação da problemática da investigação. É neste âmbito que se dá a reformulação constante dos parâmetros discursivos, dos paradigmas e dos critérios de cientificidade – objectividade, fidelidade e validade – que norteiam todo o processo de investigação.

2. VERTENTE TEÓRICA

Na vertente teórica manifesta-se a racionalidade predominante do arquivista com o seu objecto de estudo. Esta vertente prende-se já com a postulação de leis e com a formulação de conceitos operatórios e subsequente verificação dos mesmos. Estas leis e estes conceitos são os seguintes:

  • PRINCÍPIO DA ACÇÃO ESTRUTURANTE
    Todo o arquivo resulta de um acto fundador – individual ou colectivo, formal ou informal – que molda a estrutura organizacional e a sua especificidade funcional em evolução dinâmica.
  • PRINCÍPIO DA INTEGRAÇÃO DINÂMICA
    Todo o arquivo integra e é integrado pela dinâmica do universo sistémico que o envolve.
  • PRINCÍPIO DA GRANDEZA RELATIVA
    Todo o arquivo se desenvolve como estrutura orgânica simples ou complexa.
  • PRINCÍPIO DA PERTINÊNCIA
    Todo o arquivo disponibiliza informação que pode ser recuperada segundo a pertinência da estrutura organizacional.

3. VERTENTE TÉCNICA

Na vertente técnica o investigador toma finalmente contacto, por via instrumental, com a realidade objectivada. Neste sentido, e ao longo deste último século, têm surgido diversos procedimentos técnicos virados para as diversas valências dos arquivos e que vão da descrição até à difusão, passando pela organização, conservação e recuperação da informação arquivística. Nesta vertente importa, contudo, realizar ainda duas operações maiores:

  • OBSERVAÇÃO CASUÍSTICAS OU DE VARIÁVEIS
    Isto é, recolher exaustivamente os dados histórico-institucionais, normativos e reguladores, assim como descrever a natureza e o funcionamento interno do arquivo, através de diversos tipos de questionários, entrevistas ou inquéritos.
  • AVALIAÇÃO RETROSPECTIVA E PROSPECTIVA
    Ou seja, sujeitar os resultados da observação a um rigoroso exame que permita revelar e tipificar o essencial da estrutura de cada arquivo (avaliação retrospectiva) ou antecipar situações potenciais (avaliação prospectiva), quer no respeitante ao contexto orgânico – contexto de produção –, quer na sua orientação funcional – de serviço –, isto é, a rede dos circuitos por onde transita a informação e dos diversos instrumentos que permitem transferi-la, recuperá- la e difundi-la.


A introdução de soluções informáticas na chamada «gestão documental» pautadas por exigências de eficácia e eficiência na recuperação da informação, a conveniência de um arquivo se manter centralizado ou passar a descentralizado, a avaliação do crescimento de determinado arquivo são exemplos de algumas questões ou de variáveis de estudo que se devem igualmente colocar nesta vertente técnica.

4. VERTENTE MORFOLÓGICA

Finalmente, na vertente morfológica reflecte-se a eficácia destas operações. Trata-se da organização e da apresentação dos dados, devidamente crivados na vertente teórica e aferidos na vertente epistemológica.

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